Umas câmaras abatem animais, outras promovem esterilizações
O abandono de animais em Portugal atinge dimensões tais que obriga as câmaras municipais a manterem os animais em espaços exíguos antes de os abater
A legislação em vigor desde 2003 permite, em casos excepcionais, o abate de animais saudáveis mas na maioria dos casos a excepção torna-se regra por força da sobrelotação dos canis e gatis municipais.Em Beja, «as condições são péssimas» denunciou uma fonte ligada à Associação Cantinho dos Animais de Beja (ACAB), que pediu o anonimato para salvaguardar eventuais «retaliações» sobre os próprios animais, revelando que no canil municipal se encontram aglomerados «trinta a quarenta cães num espaço reduzido» de 150 metros quadrados.Vivendo paredes-meias com o espaço camarário, o canil da ACAB é o abrigo para os cães que são frequentemente resgatados do canil municipal para serem adoptados, salvando-os de uma morte cruel.«Já houve casos em que o funcionário do canil leva os animais para trás do edifício e dá-lhes duas pauladas», critica.Num clima de desconfiança em que os voluntários «vêem demais» e são obrigados a «pular o muro para dar de comer aos cães», a ACAB confronta-se agora com outro problema: «até 15 de Agosto estamos fora do canil», disse a mesma fonte.
O cenário está também longe de ser o ideal nos canis municipais de Vila Nova de Gaia e na Maia, donde Helena Ramos já resgatou vários cães, sob medidas apertadas de entrada nestes locais.«A maioria das jaulas não tem a luz do dia», refere a voluntária, adiantando que na Maia «os animais chegam a ser mortos por electrocussões».Em boxes onde cães e cadelas convivem «há reprodução», diz a voluntária que critica o facto de «pagar para resgatar» um animal, lamentando que «as câmaras não fazem nem deixam fazer».Fora desta realidade está o Parque Municipal de Bem-estar Animal de Castelo Branco, com central elevatória própria para tratar o saneamento.Aqui a autarquia estabeleceu um protocolo com a Associação de Protecção e Apoio ao Animal Errante de Castelo Branco para a gestão integral do espaço, onde duas centenas de cães e várias dezenas de gatos partilham em liberdade um terreno de 3,5 hectares, por onde se espalham casotas em cimento, com aquecimento para os dias de Inverno, e onde existe também um hotel canino para alojar animais de munícipes, a preços simbólicos, ajudando à despesa.Num concelho onde o lema é «não compre um animal, adopte-o», a associação assume uma «atitude acertiva» junto de quem quer abandonar o seu animal.Rosário Almeida, professora de geografia, pediu há três anos licença de vencimento para se tornar presidente da associação, da qual é apenas voluntária, por «acreditar no projecto», que aposta em acções que sensibilizam os munícipes para a problemática do abandono e dos maus-tratos de animais.Em bairros onde habitam famílias mais desfavorecidas «vamos ter junto das pessoas para levar o animal para esterilizar e depois voltamos a devolvê-lo», conta a responsável, para quem é necessário apostar-se em Portugal numa verdadeira campanha de esterilização de animais para controlar a sua reprodução e a existência de errantes.O Centro Veterinário de Valongo é considerado outro bom exemplo.«Temos recebido visitas de outras câmaras municipais, sinal de que estamos no caminho certo", disse o vereador do ambiente, José Luís Pinto.Construído de raiz há quatro anos, este centro veterinário municipal possui dez jaulas, cada uma com cerca de dois metros, albergando actualmente apenas dez cães, e ainda pátio para passeios e gabinete veterinário e duas salas de operações, onde trabalham os três veterinários municipais ajudados por dois auxiliares.Além da vacinação, tratamentos e colocação de microship, «esterilizamos animais errantes e os que têm dono», explica o autarca.Em vez de os cães serem abatidos ao fim de oito dias, prazo previsto pela lei, quando não reclamados, seguem para adopção, sendo muitas vezes transportados para a Alemanha para serem acolhidos por novos donos, por intermédio da associação Europaischer-unonaturschutza.
Lusa / SOL