10 maio, 2009

RSPCA



Inglaterra. Este País tem reputação de ser um dos lugares do Planeta que mais ênfase dá ao bem estar animal. Paradoxalmente a necessidade de implementação de políticas de prevenção contra crueldade advém do facto da existência de crueldade contra os animais.

A maior associação zoófila da Inglaterra, é o RSPCA (Royal Society for Prevention of Cruelty against Animals). Esta associação é essencialmente financiada por donativos de entidades privadas e quotas dos membros. O RSPCA tem várias unidades espalhadas pelo País que dispõem de um hospital veterinário e casas para acolhimento de animais. Cada animal que entra é clinicamente observados, tratado, vacinado, esterilizado, e só depois de ter sido declarado de boa saúde física e mental, será exibido ao público para adopção.

Animais com problemas de comportamento, são treinados por especialistas a fim de facilitar a sua reintegração com famílias interessadas em os adoptar. Apenas casos muito extremos onde a recuperação da saúde ou do estado mental do animal se revela impossível, o animal é condenado a uma morte sem sofrimento.


Esta associação emprega batalhões de pessoas; pessoal administrativo, veterinários, enfermeiras, especialistas de comportamento, tratadores, investigadores, técnicos de educação, e inspectores. Os inspectores do RSPCA têm um papel crucial na promoção do bem estar animal resultante de uma colaboração perfeita entre os membros do público e a policia. As suas funções são variadas, e estendem-se desde a colecta de animais perdidos identificados pelo público ou entregues nos serviços da Polícia, acções de salvamento de animais em situações de perigo e peritagem da forma como os animais são tratados em instituições publicas ou privadas.


Anualmente, o RSPCA recebe na ordem de duas mil candidaturas por ano para a posição de Inspector. Apenas 27 são seleccionados para um treino intensivo que envolve aulas práticas e teóricas sobre legislação e comportamento animal. O treino prático envolve exercícios quase comparáveis com treino militar. O candidato tem que estar fisicamente apto para mergulhar, correr, escalar, rastejar em sarjetas escuras e apertadas, usar uma pistola, auto-defesa, e mais meio mundo de actividades consideradas necessárias para salvar um animal em perigo. Um animal é imprevisível e nunca se sabe onde é que ele se vai enfiar. Gatos no topo de árvores, cães dentro de sarjetas, patinhos acabados de sair do ovo num ninho de um oitavo andar feito por uma pata mais ambiciosa... os inspectores do RSPCA não olham a dificuldades para salvar qualquer animal numa situação de aflição. São os "bombeiros" dos animais.


É uma vida excitante frequentemente recheada de aventuras. Não admira que muita gente, em busca de emoções fortes e com forte amor pela vida animal, tente entrada nos cursos para inspectores do RSPCA. Mas entre algumas lágrimas e desapontamentos, apenas 5 candidatos serão seleccionados no final de cada curso e serão contemplados com uma farda semelhante à da polícia. Para aquelas pessoas que gostam de fardas, mas rejeitam a violência, este é um bom compromisso!...


Os inspectores do RSPCA são de facto conhecidos como a Polícia Animal.
Um programa sobre este treino foi recentemente exibido na BBC. Neste programa um dos candidatos desfez-se em lágrimas por ter sido excluído do programa de treino. A razão foi a seguinte: durante este treino, os alunos têm que aprender a utilizar uma arma especial que causa morte imediata do animal. É absolutamente necessário que eles aprendam a colocar a pistola no local correcto a fim de evitar qualquer dor ou sofrimento ao animal. Este último recurso é utilizado em situações em que o animal não pode ser salvo ou reabilitado e a morte é a única forma de lhe acabar com o sofrimento. Esta parte do treino decorre num matadouro, onde os alunos aprendem a manipular a pistola num primeiro estágio em carcaças a fim de aperfeiçoar a técnica, passando depois ao treino em animais com destino ao mercado de carne. Alguns dos alunos sucumbem à emoção e desfazem-se num vale de lágrimas. Curiosamente, neste caso as mulheres seleccionadas passaram todas a fase seguinte. Este pobre diabo, um jovem dos seus 27 anos decidiu voltar à sua carreira de programador.


Na Inglaterra a televisão é sem dúvida um dos mais importantes aliados das associações zoófilas, promovendo a sensibilização do público para assuntos relacionados com bem-estar animal. Por exemplo o canal 4 tem tido um papel crucial na divulgação das actividades do RSPCA. Todos os dias num programa de meia hora denominado Pet Rescue (Salvando Animais) segue à laia de telenovela as histórias dos vários animais salvos pelos Inspectores e os seus destinos. Mostra-se o dia atarefado num dos muitos hospitais espalhados pelo País e termina sempre com um apelo ao público para adoptar um determinado animal que tanto pode ser um gato mais velhote, um cachorro menos atractivo, um burro nos seus anos finais, um periquito apanhado numa disputa de divórcio ou um respeitável ratinho que provocou alergia ao menino da casa.


Muitas vezes os Inspectores, na companhia de um polícia, vão visitar famílias que por alguma razão foram denunciadas por um vizinho descontente com a forma como os animais são tratados. A função do Inspector é avaliar se o lugar onde esse animal está é ou não apropriado para acomodar as necessidades físicas e etológicas do animal. Caso o Inspector determine que o animal está a viver em condições não apropriadas, o animal é retirado aos donos e levado para o abrigo do RSPCA.


O papel do Polícia é o de manter a ordem em caso de agressão por parte dos donos. Aqui se entende o porquê da necessidade de aprender técnicas de defesa pessoal durante o curso.


É indiscutível o papel do RSPCA na função vigilante dos direitos dos animais. O RSPCA é a única associação na Inglaterra que pode levar a tribunal os cidadãos que infrinjam a lei. As penas aqui são pesadas, e é mau sinal quando o RSPCA alertado por testemunhas, decide fazer uma visita de cortesia.


Há uns meses atrás dois homens foram condenados a dois anos de prisão e pesadas coimas, devido ao facto de terem atacado com cães uma toca de texugos. Análises do DNA feitas na Universidade de Leicester, determinaram que o sangue encontrado nos casacos destes homens, era de texugo e isto foi prova suficiente para os condenar.


Mais recentemente, uma mulher que mantinha um circo, foi apanhada a exercer actos de crueldade sobre um chimpanzé de três anos de idade. Filmada com uma câmara de vídeo escondida, as imagens mostram a mulher a bater violentamente no animal com uma tábua durante 30 minutos. Estas imagens foram passadas em todos os telejornais nacionais e inflamaram os corações dos cidadãos e de sociedades de protecção dos animais. A mulher foi condenada a prisão, uma pesada multa e todos os animais lhe foram retirados. O chimpanzé vive agora feliz em companhia de outros da sua espécie num santuário para macacos.


Gostaria de ver acções punitivas desta natureza a serem praticadas no meu País. O que é que nós cidadãos vamos fazer para que isso se torne possível? Será que estamos interessados em tornar condenáveis actos desta crueldade desta natureza? Como vamos pressionar o nosso Governo a alterar e fazer cumprir as suas próprias leis? *


Será que ajuda o facto de os lembrarmos que os animais não votam mas que quem os respeita e defende, sim?! Vale a pena tentar...